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Foto do escritorRAPHAEL COSTA

O que o Jazz me ensinou sobre gestão

Atualizado: 1 de set. de 2020

Spoiler: leia esse texto ouvindo essa música


Confesso que ainda sou novo no mundo do Jazz, mas uma coisa tem me chamado muito a atenção em cada disco novo que ouço: como é possível que cada artista da banda saiba exatamente que nota improvisar, e no meio daquele caos de notas, encontrar uma coesão harmônica criando verdadeiras obras de arte? O meu exemplo de reflexão mais recente é um álbum do Milles Davis: Kind of Blue, onde fazem parte da banda: John Coltrane, Bill Evans e Paul Chambers. Basicamente o hall da fama do Jazz “in a nutshell” todos mestres da inovação.


Talvez Davis não seja o exemplo de líder que buscamos hoje em dia, dado a uma série de episódios infames de sua vida pessoal, mas podemos aprender muito com a forma que ele geria sua banda. Davis era conhecido por sempre buscar novos membros, dar as partituras em cima da hora, ou simplesmente não oferecer partitura nenhuma aos músicos. Tais atitudes eram simples, mas estavam enraizadas em princípios de diversidade, criatividade, confiança, respeito e acima de tudo: caos.


Muitas vezes criamos processos, pipelines, programas de carreiras para incentivar a qualidade das notas que são tocadas pelas nossas equipes, mas esquecemos que esses mesmos elementos podem ser podadores de sua criatividade e também de sua própria motivação, assim gerentes vão orquestrando uma sinfonia desafinada, tentando eliminar o caos quando na verdade o que deveria ser feito é justamente o oposto: abraça-lo.


Caos não quer dizer apagar incêndio, não quer dizer demandas extrapolando as tarefas diárias, tão pouco significa um ambiente hostil. O caos pode e deve ser visto como uma complexidade a ser explorada. Davis sabia disso e tirava proveito enquanto tocava com suas bandas. John Coltrane e Bill Evans são de extrema complexidade, talento e criatividade. Caso Miles Davis lhes desse as notas que eles deveriam tocar, teria reduzido toda a complexidade a um ritmo simples e pobre, por contar apenas as riquezas de suas próprias melodias.


Mas isso não quer dizer que os processos devam ser deixados de lado, muito pelo contrário. Bandas de Jazz e de Blues improvisam em cima de duas coisas: uma escala e um compasso. O compasso é o ritmo, a postura do time que faz o grupo performar, ele é o porquê pelo qual os músicos tocam, é sua paixão sintetizada em notas. São exemplos de compasso: os hábitos organizacionais ou os rituais scrum, como o Daily Scrum/ Stand up que cada vez mais tem sido adotados no gerenciamento organizacional. Já a escala é a metodologia, o “como” iremos fazer nossas atividades. Deixando então espaço aberto para a equipe decidir “o que” será feito. É o famoso "Why, How, What" aplicado à postura de gestão, sútil mas ao mesmo tempo sublime e eficaz.


Talvez a grande lição que possamos retirar do Blues e Do Jazz seja justamente o fato de que, mais do que ter, precisamos ser capazes de sentir e performar o nosso propósito. E para isso precisamos de ritmo, de rituais que nos mostrem qual nota devemos tocar e como improvisar perante a complexidade que nos é exposta pelas vicissitudes de um dia a dia no trabalho. Agora aproveita o restinho da música ;)

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